No relatório, o Relator Especial sobre substancias tóxicas e perigosas, Marcos Orellana, destaca que "em todo Brasil, as fábricas e instalações estão situadas em uma proximidade inimaginável às comunidades, que são objeto de graves violações de seus direitos humanos". Também destaca a situação de Piquiá. Este caso mostra como cada vez mais o Brasil está sendo explorado pelas cadeias de valor mundiais "aproveitando-se da debilidade das normas e da supervisão e efetivação destas."
Em sua intervenção durante o 45º Período Ordinário de Sessões do Conselho de Direitos Humanos, na sede das Nações Unidas, em Genebra, o especialista das Nações Unidas declarou que "as empresas implicadas em claros abusos de direitos humanos, incluída a Vale, deveriam ser responsabilizadas do que pode ser descrito como delitos ambientais e laborais". Diante da degradação da situação dos direitos humanos e da proliferação de abusos empresariais no Brasil, o Relator Especial fez um firme chamado à ação, recomendando que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas realize uma investigação internacional sobre a situação atual dos direitos humanos no Brasil, assim como una sessão especial sobre a proteção da Amazônia e os direitos humanos, garantindo a participação ativa de todas as partes interessadas.
Em um relatório publicado em 2011, a FIDH, a Justiça nos Trilhos e a Justiça Global denunciaram os abusos por parte das empresas e a negligência do Estado em relação à comunidade de Piquiá, no Estado do Maranhão. Desde aquela época, as organizações têm apelado repetidamente à comunidade internacional, inclusive ao Relator Especial das Nações Unidas sobre substâncias perigosas, para que pressione o Brasil e solicite uma rápida reparação. Em maio de 2019, a FIDH e a Justiça nos Trilhos publicaram um segundo relatório em que se relatava a notável luta encabeçada pela comunidade de Piquiá diante da persistência das violações, assim como os riscos que rodeiam a finalização do projeto de realocação da comunidade, duramente conquistado. Isso levou a uma visita do antecessor do Sr. Orellana, Baskut Tuncak, em dezembro de 2019.
A FIDH dá as boas-vindas ao relatório do Relator Especial sobre Brasil, que constitui um alerta a mais sobre a magnitude dos abusos empresariais e a falta de responsabilização no país. O trabalho de Tuncak y Orellana dá visibilidade à luta da comunidade por seus direitos e corrobora desde o sistema das Nações Unidas o duro diagnóstico descrito nos relatórios da FIDH.