Descrição da situação:
O Observatório foi informado da detenção arbitrária e de agressões físicas, e subsequente libertação, de Sheila Wilson, defensora dos direitos humanos e jornalista que trabalha no departamento de comunicação e advocacia do Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD), uma organização membro da FIDH.
No dia 4 de Junho de 2024, Sheila Wilson foi violentamente atacada e raptada pela Polícia da República de Moçambique (PRM) em Maputo, a cidade capital. Na altura do rapto, Sheila Wilson estava a fazer uma transmissão em direto na página oficial do Facebook do Diretor Executivo do CDD, Prof. Adriano Nuvunga. De acordo com as informações recebidas, foi possível ouvir a jornalista a gritar por socorro durante a transmissão em direto, até ser levada pela Polícia para a 4ª esquadra da cidade de Maputo numa viatura policial. Foi posteriormente libertada horas depois, no mesmo dia 4 de Junho de 2024, sem qualquer acusação, embora a polícia tenha apreendido oficialmente o seu telemóvel. Após a sua libertação, Sheila Wilson apresentava hematomas em algumas partes do corpo, resultantes de ferimentos ligeiros sofridos quando foi atirada para debaixo do banco do carro da polícia. Até à data da publicação deste Alerta Urgente, a polícia ainda não apresentou uma justificação para a detenção arbitrária de Sheila Wilson e para a apreensão do seu telemóvel.
A emissão durante a qual foi detida abordava a questão do tratamento dos antigos agentes do Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP) que protestaram durante uma semana em frente às instalações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Maputo. Os antigos agentes foram desmobilizados ao abrigo do Acordo Geral de Paz de Roma, com a intervenção das Nações Unidas, mas não receberam qualquer indemnização pela desmobilização durante mais de 20 anos. Na noite de 3 de Junho de 2024, a polícia foi mobilizada para expulsar à força os antigos agentes do SNASP do local, uma ação que provocou tumultos e levou parte do grupo a refugiar-se no interior do edifício do PNUD para escapar à violência policial.
O Observatório recorda que muitos ataques ou detenções arbitrárias contra a sociedade civil, activistas e jornalistas, perpetrados por agentes de segurança ou funcionários do Estado, foram reportados nos últimos anos em Moçambique. Tal como o Observatório e a Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos (RMDDH) afirmaram num relatório datado de Outubro de 2023, a restrição do espaço cívico em Moçambique tem vindo a acelerar, impedindo a liberdade de associação e reunião, bem como a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Para citar alguns exemplos, em Outubro de 2022, o jornalista Arlindo Chissale foi detido por agentes da polícia, acusado de ser um “insurgente” e de recolher informações para actos terroristas. Em 18 de Janeiro de 2019, o jornalista Germano Daniel Adriano foi detido sem mandado judicial quando cobria a violência armada na província de Cabo Delgado, tendo sido libertado sob fiança em 23 de abril de 2019.
O Observatório condena veementemente a detenção arbitrária de Sheila Wilson, que parece ter como único objetivo restringir a sua liberdade de expressão e impedir as suas actividades legítimas no domínio dos direitos humanos.
O Observatório apela às autoridades moçambicanas para que ponham termo a qualquer ato de violência e assédio, incluindo a nível judicial, e a qualquer ato de intimidação contra Sheila Wilson, bem como contra todos os defensores dos direitos humanos no país. O Observatório apela igualmente às autoridades moçambicanas para que garantam, em todas as circunstâncias, a liberdade de expressão consagrada no direito internacional dos direitos humanos, nomeadamente no artigo 21º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), de que Moçambique é parte.
Ação necessária:
O Observatório solicita a V. Exa. que escreva às autoridades moçambicanas pedindo-lhes:
1. Garantir em todas as circunstâncias a integridade física e o bem-estar psicológico de Sheila Wilson e de todos os defensores dos direitos humanos em Moçambique;
2. Pôr fim a todos os actos de violência física e moral contra Sheila Wilson e todos os outros defensores dos direitos humanos em Moçambique;
3. Pôr fim a todos os actos de assédio - incluindo assédio judicial - contra Sheila Wilson e todos os outros defensores dos direitos humanos em Moçambique;
4. Assegurar o estrito respeito pelas liberdades fundamentais e, em particular, garantir em todas as circunstâncias o respeito pela liberdade de expressão, incluindo a liberdade de imprensa, tal como garantido pelo direito internacional dos direitos humanos, em particular pelo artigo 21º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), do qual Moçambique é Estado Parte;
5. Garantir que os defensores dos direitos humanos - incluindo os jornalistas - possam realizar as suas actividades legítimas de direitos humanos em todas as circunstâncias, sem obstáculos ou medo de represálias.
Contactos:
- Presidente da República de Moçambique, Sr. Filipe Nyusi, Twitter: @filipe_nyusi
- Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Sra. Helena Kida. Email: suporte@mjcr.gov.mz , Twitter: @KidaHelena
- Ministro do Interior, Pascoal Pedro João Ronda M. Email: gcimintmz@gmail.com
- Provedor de Justiça, Sr. Isaque Chande, Email : gpj@provedor-justica.org.mz , Twitter : @DoJustica
- Presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Sr. Albachir Macassar. Email: bachir.macassar@gmail.com
- S.E. Sr. Geraldo Gonçalves Miguel Saranga, Embaixador, Representante Permanente da Missão da República de Moçambique junto das Nações Unidas em Genebra, Suíça, Email : mission.mozambique@bluewin.ch
Por favor escrevam também para as representações diplomáticas de Moçambique nos vossos respectivos países.
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Paris-Genebra, 7 de junho de 2024
Por favor, informe-nos de qualquer ação empreendida citando o código deste apelo na sua resposta.
O Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos (o Observatório) foi criado em 1997 pela FIDH e pela Organização Mundial contra a Tortura (OMCT). O objetivo deste programa é prevenir ou remediar situações de repressão contra os defensores dos direitos humanos. A FIDH e a OMCT são ambas membros do ProtectDefenders.eu, o mecanismo da União Europeia para os defensores dos direitos humanos implementado pela sociedade civil internacional.
Para contactar o Observatório, ligue para a linha de emergência:
- Correio eletrónico: alert@observatoryfordefenders.org
- Tel. FIDH: + 33 (0) 1 43 55 25 18
- Tel. OMCT: + 41 22 809 49 39